segunda-feira, 9 de março de 2009

O fim do reino de Julia Roberts


Não sou exatamente uma fã de Julia Roberts - acho-a muito limitada como atriz, mas com um verdadeiro glamour de estrela, como as dos velhos tempos. Mesmo assim, achei extremamente antipática a matéria desta semana da Newsweek, que tem dado muita marola na rede norte-americana e inglesa. Por que esta mulher está sorrindo?, pergunta o título, enquanto o subtítulo oferece uma resposta dúbia: "Julia Roberts ainda é uma superstar, mas seu reino pode ter chegado ao fim."

Assinada por Ramin Setoodeh, o correspondente de entretenimento da Newsweek, a matéria é no estilo morde-e-sopra. Enaltece o famoso sorriso de Julia, sua capacidade de encantar as platéias, o fato de ter quebrado o "teto de vidro" dos cachês para atrizes, exigindo e ganhando 20 milhões de dólares por filme. Elogia sua dedicação à familia e determinação de se manter longe do circo das "celebridades" de hoje.

Mas no mesmo embalo Setoodeh chama Julia de "velha demais para os padrões de Hollywood" (com 41 anos... alô, Meryl!), e afirma que nenhum de seus trabalhos fora do modelo Julia-superstar deram certo.

Em dois pontos a matéria chega perto de abordar algo sobre o qual vale a pena refletir. No primeiro Setoodeh se contradiz: afirma que a comédia romântica, gênero que fez a glória de Julia, "está extinta", substituída pelas comédias rasgadas com vago clima sentimental de Judd Apatow, dirigidas prioritariamente ao público masculino. Mas logo depois menciona o sucesso de filmes como Mamma Mia, Sex and the City e Ele Não Está Tão a Fim de Você, vistos "75% por mulheres". Será então que para Setoodeh um filme ou um gênero só valem se forem vistos por homens?

No outro ponto ele pode ter chegado perto da verdade: como Jeffrey Katzenberg, então presidente da Disney, previra num famoso memorando interno, 20 anos atrás, podemos ter chegado a um momento em que não é econômica ou criativamente vantajoso fazer filmes com estrelas. Bons conjuntos de elenco, atores sólidos mas não estelares, animação, efeitos, conceitos e idéias podem estar tomando o lugar outrora ocupado por astros de primeira grandeza como Julia Roberts (alguém aqui viu Watchmen pelo elenco? Conhece algum dos atores de Quem Quer Ser um Milionário? Preocupa-se com quem está vestindo a malha do Homem Aranha?).

Não seria o fim do reino de Julia - que é inteligente o bastante para explorar várias opções de carreira, inclusive como produtora - mas a mudança (mais uma vez) do modo de fazer cinema de mercado.

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