quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pernambucana atacada por neonazistas na Suíça



A advogada recifense Paula Oliveira, 26 anos, foi espancada e teve o corpo marcado a golpes de estilete por três skinheads em Dubendorf, município onde mora, vizinho a Zurique, na Suíça. Paula estava grávida de três meses de duas meninas e terminou perdendo os bebês após a agressão, que ganhou contornos de crime de xenofobia pelos requintes de crueldade: os neonazistas suíços “escreveram” na barriga e nas coxas da pernambucana a sigla SVP, iniciais do Schweizerische Volkspartei (algo como Partido do Povo Suíço), agremiação que dá guarida a grupos de ultradireita e xenófobos. Paula está internada no Hospital Universitário de Zurique e deve ter alta nesta quinta-feira.

A agressão aconteceu na noite de segunda-feira, quando Paula voltava para casa. A advogada, que trabalha em Zurique em uma empresa dinamarquesa de transporte marítimo de contêiner, A.P. Moeller - Maersk, havia acabado de descer do trem em Dubendorf e falava com a mãe, Jeny Ventura, pelo celular. Ela foi abordada por três homens com as cabeças raspadas, vestidos de preto. Levada a uma área arborizada e deserta, foi espancada. Segundo disse ela a parentes, um dos skinheads tinha uma suástica tatuada na cabeça.

O ritual fascista não parou por aí: Paula foi imobilizada e deixada seminua por dois dos agressores. O terceiro, portando o estilete, fez mais de cem cortes no corpo – braços, pernas, barriga e pescoço – da pernambucana. Abandonada pelos neonazistas, a advogada ligou para o namorado suíço Marco Trepp, pai das crianças e com quem ela mora, de um banheiro público.

Os pais de Paula estão em Zurique. Ela é filha do advogado Paulo Oliveira, assessor do deputado federal e ex-governador de Pernambuco Roberto Magalhães (DEM). Oliveira foi secretário de Desenvolvimento Econômico do Recife, na gestão de Magalhães (1997-2000).

O caso está sendo acompanhado pela consulesa-geral do Brasil em Zurique, Victoria Cleaver, que esteve no hospital visitando Paula. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores, há indícios que comprovam o caráter xenófobo do crime. Em contato com as autoridades policiais suíças, a embaixadora exigiu rigor nas investigações.

Em entrevista à Rede Globo Nordeste, Paulo Oliveira se disse “indignado, impotente e absolutamente revoltado” com a agressão à filha. “Estou realmente chocado, sobretudo por ver que coisas que a gente acha que só acontecem no cinema, mas que vemos acontecer com a família da gente. Ela teve o corpo totalmente retalhado”, disse Oliveira à Globo.

O Jornal do Commercio tentou contato com o advogado, mas sem sucesso. Na residência do noivo de Paula, Marco Trepp, uma mulher que se identificou como Joana e disse ser faxineira, informou que Marco, Oliveira e Jeny estavam no Hospital Universitário de Zurique e não tinham horário para voltar para casa.

No Recife, a atual esposa do ex-secretário, que identificou apenas como Jussara, confirmou que o marido viajou para Zurique na madrugada de nesta quarta-feira. “Também não estou conseguindo falar com ele. Mas não posso repassar qualquer tipo de informação.”

O deputado Roberto Magalhães disse que entrou em contato com as autoridades diplomáticas brasileiras a pedido do seu funcionário. “Eu e o senador Marco Maciel (DEM) fizemos o que estava ao nosso alcance. Acionamos o Itamaraty e tomamos as providências cabíveis. Mas esse é um caso particular, que envolve a privacidade de uma família, e prefiro não me pronunciar a respeito”, ponderou o ex-governador.

Agências de notícias e o jornalista Ricardo Noblat informaram ainda que a consulesa foi maltratada pela polícia suíça. Victoria Cleaver teria sido aconselhada a falar com a vítima se quisesse informações sobre o crime. A própria advogada teria sido ameaçada por um investigador suíço, que teria duvidado da veracidade do acontecido: “Se você estiver mentindo, poderá ser presa”.